BOURCIER. Paul. HISTÓRIA DA DANÇA NO OCIDENTE.
São Paulo: Martins Fontes, 2001.
A PRIMEIRA DANÇA FOI UM ATO SAGRADO
O primeiro documento que apresenta um humano indiscutivelmente em ação de dança tem 14000 anos. Ainda é necessário elaborar um trabalho muito importante de levantamento e de comparação, pois os especialistas da pré-história se preocuparam muito pouco com a história do movimento. Por isso, o bom senso aconselha manter uma atitude objetiva e descritiva sobre os documentos iconográficos estudados. Ou seja, tem-se como regra, examinar bem os documentos, não ir além das constatações evidentes e não ceder ã tentação de imaginar sistemas de ritos mágicos.
A orquèstica madaleniana
O ecossistema paleolítico baseia-se nos animais; as danças só poderiam referir-se a eles.
As grutas são santuários. Comprova-os o uso da sepultura ritual. Portanto, não se deve excluir a ideia de uma dança religiosa.
Quatro documentos
É preciso considerar que o número de documentos é limitado e que há um rigor em sua seleção.
Numa parede de uma gruta do período pré-histórico, isolado de qualquer outra representação, fato raro, está representado o ancestral dos dançarinos sobre o qual seguem as constatações:
- Corpo e caráter da dança: o personagem executa um giro sobre si mesmo.
- Vestimentas: o traje apresentado é elaborado.
Por analogia, nota-se que em qualquer parte do mundo e em qualquer época as danças sagradas se executam através de giros.
Imitações desta figura foram encontradas em outras grutas de outras cidades. Deve-se acreditar que a humanidade dispunha de uma espécie de fundo cultural comum.
As representações de grupo começam a ser frequentes no período mesolíttco, descobre-se uma cena gravada que apresenta uma roda de sete personagens dançando em torno de dois personagens centrais que se contorcem no chão.
O movimento vai da direita para a esquerda, ou seja, é o da direção aparente dos grandes astros, o Sol e a Lua. Observar que todas as rodas espontâneas, mesmo as das crianças, giram na mesma direção e que as rodas têm as virtudes de uma dinâmica de grupo, como acontece em geral nas danças africanas.
Em suma. segundo os documentos conhecidos, a dança nos períodos mesolftico e paleolilico está sempre ligada a um ato cerimonial. O estado de despersonalização que parece ser procurado é favorecido pelo uso de máscaras de animais que fazem parte do rito. Observar que a máscara é substituída pela maquilagem.
A partir do período neolítico, a condição humana se transforma. De predador, o homem transforma-se em produtor; descobre as práticas da agricultura e da cnação de animais, torna-se senhor do seu destino.
Esse fato traz duas consequências, a população aumenta e os homens passam a se organizarem em grupos mais poderosos do que a família.
Nascem as cidades, cada uma com sua personalidade própria, suas próprias divindades protetoras, com frequência um animal simbólico, um totem. Os ntos religiosos personalizam-se em cada grupo à medida que este descobre sua identidade. Cada grupo terá sua ou suas danças próprias.
Em nenhum lugar foram encontradas representações de danças agrárias miméticas muito antigas. Porém, foram resgatadas em grande número, representações de combates cerimoniais dançados.
Observa-se na África do Sul cenas de dança, em solo ou coletivas, entre as pinturas rupestres, os participantes vestidos de animais de forma mais ou menos realista. Levam a supor um culto totêmico dançado. E mostra que os agrupamentos humanos tinham sua divindade-totem.
Assiste-se a uma mudança no sentido da dança: a identificação com o espírito conseguida pela dança com giro, passa-se a uma liturgia, a um culto de relação e não mais de participação. Enfim, os documentos mostram o nascimento da dança cerimonial leiga.
A dança nos antigos impérios
Por falta de documentação, fala-se com grande precaução da dança dos antigos impérios médio-orientais. Um grande período sem evidências estendesse entre o abandono da pintura parietal e o surgimento de uma iconografia orquéstica na cerimónia e em outraS artes plásticas. Muito pouco chegou até os dias de hoje sobre a dança no oriente médio. Entretanto, o Egito praticou amplamente as danças sagrada, litúrgica (principalmente a litúrgica funerária) e. enfim, de recreação. Sào numerosos os documentos iconográficos sobre a dança no Egito, apesar de estarem dispersos, mal classificados e serem textos herméticos.
Os hebreus, por causa da religião, não representavam seres vivos, assim, o conhecimento sobre a dança hebraica baseou-se em textos escritos, essencialmente a Bíblia.
A dança tinha um caráter paraiitúrgico. abandonada à espontaneidade da multidão, porém praticada em um contexto religioso. Apresentava rodas, danças em fileiras, giros e era praticada sem máscaras. A dança do povo hebreu não foi transformada em arte.
CAPITULO 2 - A DANÇA, DOM DOS IMORTAIS
A civilização grega è completamente impregnada pela dança, comprovam inúmeros documentos cole-tados em Creta . Muitas vezes abordada como dança da beleza ou dança da feiúra.
Creta herda tradições que detectamos desde o início da história, as quais os Gregos transformarão completamente. Estes viam na dança a religiosidade, consideravam-na divina porque dava alegria.
Na concepção de Sócrates, a dança forma o cidadão completo, além de ser um exercício capaz de proporcionar uma postura correta ao corpo. É fonte de boa saúde e expulsa os maus humores da cabeça. Portanto, a educação deve conceder muito espaço à dança, pois o corpo também é um meio de se conquistar o equilíbrio mental, o conhecimento, a sabedoria.
CAPÍTULO 3 - A IDADE MÉDIA INVENTA A RETÓRICA DO CORPO
Sabe-se pouco sobre a dança na alta Idade Média, a evidência é que haviam retomado um papel quase para litúrgico. Dançavam a dança de roda fechada ou aberta e, geralmente, ao som do canto gregoriano. Entretanto, ela não foi integrada ã liturgia católica. Esta recusa é pelo fato de a dança estar ligada, muitas vezes, ao culto pagão.
Dessa forma, a Idade Média realizou uma ruptura brutal na evolução da coreografia, normal em todas as culturas precedentes que destacaram três fases da dança: dança sagrada; dança de rito tribal totêmico; e dança de espetáculo, de divertimento. Foi essa última fase que caracterizou a dança na Idade Média cristã. Sob esta visão, surge a dança espetáculo. Somente com o estabelecimento da cultura feudal (cultura leiga) é que começaria uma evolução interna.
-CAPITULO 4^0 BALE DE CORTE
No século XII. a dança de corte assinalará uma nova etapa. A dança metrificada separa-se da dança popular e torna-se uma dança erudita, onde além de saber a métrica é preciso, também, saber os passos. Surge o profissionalismo, com dançarinos profissionais e mestres de dança, até então a dança era uma expressão corporal de forma livre.
A partir deste momento, toma-se consciência das possibilidades de expressão estética do corpo humano e da utilidade das regras para explorá-lo.
CAPÍTULO 5
A INVENÇÃO DA DANÇA CLÁSSICA
A sociedade do bale de corte - exclui-se a massa popular, que não tinha direito á cultura ou qualquer possibilidade de elaborá-la - cai na inação. é aprisionada num modo de vida rígido, submetido a regras minuciosas de horários.
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