terça-feira, 2 de março de 2010

ALMEIDA, Berenice e PUCCI, Magda. OUTRAS TERRAS, OUTROS SONS. São Paulo: Callis, 2003.

ALMEIDA, Berenice e PUCCI, Magda. OUTRAS TERRAS, OUTROS SONS. São Paulo: Callis, 2003.
A música como instrumento de educação
Crianças e jovens precisam que capacidades sejam desenvolvidas para que possam enfrentar os desafios do mundo. Dentre estas capacidades, ressaltamos três: de se deslumbrar com o aprender, de conhecer a si mesmo e talvez a mais difícil que é a de respeitar e conhecer o outro. Através do trabalho musical com sons de outras terras, o aluno se propria do que é seu e passa a respeitar outras culturas.
A música também é um recurso para que educadores desenvolvam alguns aspectos na formação da personalidade de criança e auxilia em novos aprendizados. Através da música, podemos ampliar a percepção, a concentração, a imaginação, as possibilidades de expressão dos nossos alunos.
O projeto do livro consiste na educação musical, pretende propiciar aos alunos a reflexão sobre a diversidade musical ampliando assim seus horizontes e despertando a valorização de outras culturas, compreendendo-as. O projeto se propõe a estimular o conhecimento sobre a história, a cultura e a música de outros povos.
O multiculturalismo na educação musical
Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais, aspectos do multiculturalismo podem ser abordados na educação, pois temos a necessidade de compreender outras culturas para ampliar nossos horizontes.
Ao observarmos o que se tem feitos nas escolas na área de música é que a música brasileira que se faz não possui elementos verdadeiramente brasileiros. Não há o destaque para as particularidades étnicas ou regionais, o que nos leva a crer em uma globalização da música brasileira.
Ao compreendermos outras culturas, passamos a compreender a nossa própria cultura e estamos assim preparados para enveredar por outras terras e outros sons sem perder a nossa própria identidade.
Multiculturalismo como fenómeno
Ao vivenciar a pluralidade musical, precisamos compreender a multiplicidade de expressões que unem e causam confrontos entre os povos. Infelizmente, ainda hoje, vê-se o tratamento a expressões culturais de outros povos com preconceito.
Um dos grandes desafios da educação musical é encontrar uma forma criativa para nos aproximarmos de diversas culturas sem cair em folclorismos repletos de preconceito. Na educação, cabem todas as manifestações possíveis de expressão da cultura, inclusive o folclore, e não apenas ele.
O importante é entender quem somos com espírito de investigação. É preciso ouvir músicas das etnias formadoras do Brasil, olhando cuidadosamente para suas particularidades.
O multiculturalismo faz parte da história brasileira, sendo importante compreender o outro para compreender a nós mesmos sem ideias arraigadas ou antigas.
A música dos povos
Introdução aos conceitos que permeiam
a música étnica
A partir de uma reflexão sobre a música étnica, o professor poderá incentivar uma discussão em torno de uma ideia de que não existe uma música melhor do que a outra e sim a existência de uma diversidade que faz com que cada uma delas seja algo único.
O conceito de etnia está relacionado à raça e povo. Portanto, música étnica diz respeito a raças, povos e etnias. Estamos falando de uma música que está calcada nas tradições de um povo. Durante algum tempo, uma forma de definir música étnica era dizer que era uma música desvinculada à indústria fonográfica ou que estava longe dos meios de comunicação de massa. Essa ideia caiu por terra, pois podemos ouvir a música de qualquer parte do mundo em nossa casa ou sendo encontradas em lojas de discos, documentários de TV etc.
Algum aluno poderá estranhar a música africana ou indígena, e o professor não deverá puni-lo e sim desenvolver estratégias para ideias que sejam úteis não só na educação musical, mas na vida do próprio aluno. É preciso um conhecimento aberto e investigativo.
Ao estudarmos a música étnica, não devemos nos ater a autores e sim devemos procurar entender o universo a que aquelas formas musicais pertencem, formando assim, o gosto estético dos alunos.
Cabe aos educadores, buscar no estudo da música a compreensão de suas diversas formas e de que maneiras elas podem ser utilizadas em sala de aula.
Um breve histórico sobre a etnomusicologia
A etnomusicologia é o estudo das músicas de diferentes povos, isto é, o estudo das etnias musicais. A música étnica engloba termos como música folclórica, de raiz, tradicional etc.
Ela pode apresentar aspectos que envolvam a religiosidade, o profano, o anonimato ou autoria das canções, a forma lúdica ou rígida, o ritualismo, os momentos de iniciação. A música também pode ser espontânea ou induzida, coletiva ou individual, enfim, pode ter múltiplas funções e significados.
Folguedos
Inúmeros folguedos brasileiros tiveram origem nas danças portuguesas, desde as mais populares e profanas até os autos religiosos. Dentre as várias podemos citar:
- Pastoris: folguedo que descreve a viagem dos pastores a Belém enquanto cantam e contam o nascimento de Jesus. Com o passar do tempo, os pastoris passaram a incorporar elementos profanos.
- Reisados: auto popular que tem origem nas festas portuguesas chamadas Janeiras e Reis. São cortejos realizados em períodos natalinos e apresenta vários episódios com temas profanos e religiosos. Dentre eles, está o bumba-meu-boi.
• Bumba-meu-boi - festa popular realizada em várias regiões do Brasil. É bem humorada e bem rica em sua simbologia. Há após as visitas festivas às famílias amigas a encenação cómica do enredo de Catirina e Pai Francisco, onde ela grávida deseja comer boi. O boi é morto e após tentativas de pajés o boi ressuscita para a alegria de todos.
Danças
Várias danças influenciaram a cultura brasileira, dentre elas:
- Ciranda - dança de roda popular no Brasil, e era dançada pelos adultos trabalhadores do campo. Muito difundida no Norte e Nordeste do Brasil. Existem dois tipos de ciranda: a praieira nordestina e a do sudeste.
- Cacuriá - após a procissão do Divino, na festa dos pratos, os maranhenses dançam o cacuriá. Mesmo sendo dançada após a festa do divino, tem caráter profano.
Instrumentos musicais
A maioria dos instrumentos de cordas no Brasil tem origem portuguesa.
• Cordas portuguesas
- Violão - mais conhecido instrumento brasileiro presente em vários géneros musicais como choro, MPB, samba etc.
- Viola - conhecida como viola caipira pertence à música sertaneja.
- Cavaquinho - possui quatro cordas e é usado em choros, moçambiques, fandangos e congadas brasileiras.
- Rabeca - espécie de violino rústico usada pelos cantadores de cordel nordestino, em folias do Divino, no moçambique e em fandangos.
• Percussão
- Pandeirão-adufe - pandeiro quadrado sem plati-nela encontrado em alguns folguedos brasileiros.
- Caixas - usadas nas festas do Divino, cacuriá, cocos, congadas e maracatus.
Também conhecidas como alfaias. A diferença entre a caixa usada nas fanfarras e as alfaias está na presença nas caixas de esteiras na parte inferior do instrumento que dá caráter militar.
A música africana
A música para os africanos é parte integrante da vida social e religiosa, tendo o sentido básico da comunicação, seja ela espiritual, mística ou cotidia-na. O jeito africano de se lidar com a música é peculiar, pois ela faz parte da vida da sociedade e esta característica é marcante no continente.
A polirritmia é rica e complexa, sendo composta por tambores de vários tamanhos e tipos. Podemos observar também:
- a suavidade das kalimbas que ilustram as histórias infantis;
- a sonoridade única do canto contrapontístico dos pigmeus, fundido ao som de insetos da floresta;

- o som das koras de Mali que pode se fundir a outros instrumentos de cordas ocidentais.
Referências africanas na música brasileira
- Ritmo - elementos característicos dos ritmos africanos foram incorporados à música brasileira. Isso é perceptível em manifestações populares como o samba, o bumba-meu-boi etc.
- Canto - uma das formas mais características do canto africano é o canto responsorial (alternância entre coro e solista). O puxador, cantador ou mestre designa o responsável pelo canto inicial e coro pode ser acompanhado por instrumentos musicais.
- Dança e música - a dança e a música têm relação direta na cultura africana e isto também é presenciado na música brasileira. Exemplo: congadas, maracatu, capoeira etc.

Instrumentos musicais
Boa parte dos instrumentos brasileiros, sobretudo os de percussão, são de origem africana. Podemos identificar os seguintes:
- Atabaque - usado nos terreiros de candomblé;
- Cuíca - conhecido como puíta ou tambor de onça, imita o som de boi;
- Zabumba - tambor largo que usa baqueta para ser tocado e produz som grave. Utilizado nos forrós, baiões e xotes nordestinos;
- Pandeiro - possui platinelas e é o símbolo do samba brasileiro. Também utilizado no fandango;
- Pandeirão - não tem platinelas, tem diâmetro maior, é utilizado no Boi do Maranhão;
- Tamborim - tambor pequeno tocado com baqueta dupla, utilizado nas escolas de samba;
- Agogô - usado no samba e no maracatu e produz duas notas;
- Reco-reco - raspador usado em várias partes do Brasil;
- Caxixi - chocalho cheio de sementes e que se juntou ao berimbau;
- Ganzá - chocalho feito de metal que acompanha o pulso da música;
- Xequerê - chocalho com sementes fora da cabaça;
- Berimbau - usado na capoeira, acompanhado pelo caxixi e tem origem angolana;
- Kalimba (mbira, sanza ou piano de cuia) - feita
de cabaça ou madeira com lâminas de ferro percutidas com os dedos;
- Marimba e xilofone - instrumento formado por placas de madeira de diferentes tamanho percutidas com baquetas. Embaixo dessas placas possui tubos ou caixas de madeira;
- Orocongo - conhecido como urucungo é o ancestral do violino e possui uma corda.
O livro possui ainda várias partituras comentadas das músicas presentes no CD de apoio ao professor, e uma vasta bibliografia e discografia que poderão ser instrumento de pesquisa para ampliar os conhecimentos musicais.

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